
Sob um de seus períodos mais desafiadores desde o decreto 11.615/2023, a Taurus segue na tentativa manter o equilíbrio operacional diante do anúncio da taxação de 50% sobre produtos brasileiros, pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
A fabricante gaúcha, que teve seu estande do SHOT Show 2025 visitado e elogiado pelo filho do chefe do Executivo americano, Trump Jr., segue como uma das grandes empresas mais afetadas no Brasil pela medida.
Mas, apesar do cenário incerto, a companhia avança no diálogo com os dois países e cria estratégias para reduzir o impacto das tarifas. Uma delas foi a de contornar as tarifas com o envio de peças ao invés de armas montadas, e outra, com a transferência de uma linha de montagem à sua fábrica no sul da Georgia, cujo governador, o republicano Brian Kemp, deve vir ao Brasil no próximo dia 26 de agosto, para se reunir com Salesio Nuhs, CEO da companhia.
“Ele deve trazer uma proposta sobre o que pode ser feito para minimizar o impacto das taxas”, diz Salesio, em entrevista ao THE GUN TRADE. O executivo diz que a empresa avalia a transferência de mais linhas de montagem aos EUA —o que aumenta as contratações locais e vai de encontro com a política de reindustrialização pretendida por Trump— e que o pleito maior da Taurus é “a isenção total das taxas” para a companhia.
Nessa linha, a fabricante mantém diálogo com o governo federal americano, com seu CEO local, Bret Vorhees, já tendo se reunido com a equipe de J.D. Vance, vice-presidente. Por lá, a Taurus também contratou o escritório Ballard Partners, do lobista Brian Ballard, advogado aliado a Trump, de acordo com a imprensa local. Entre seus clientes, também está a empresa de aviação Embraer, que obteve isenção das taxas junto ao governo americano.
Nova linha de montagem nos EUA trouxe 100 contratações locais; empresa avalia mais
Até o momento, parte da linha de montagem de pistolas G em 9mm (G2, G3, GX2, GX4), referente ao que era destinado aos EUA, foi movida para o país, o que deve resultar na contratação de 100 pessoas.
“Eu monto 2.100 armas por dia para os EUA. Em setembro vou montar 900 armas por dia, da família G. No momento, sigo montando 1200 armas no Brasil”, diz.
A transferência dessa linha, como uma eventual ampliação dela, não afeta em nada o mercado CAC (Caçador, Atirador e Colecionador), segundo Salesio. “Para o mercado civil brasileiro não há mudança. Essas estruturas são apenas para a exportação”, diz.
Caso transfiram toda a montagem de todas armas destinadas ao mercado americano, já são mais 150 funcionários na planta americana (e menos funcionários no unidade de São Leopoldo). A Polimetal, subsidiária que fornece peças para a Taurus, por exemplo, deu férias coletivas a 49 funcionários neste mês, como efeito do tarifaço.
Sem isenção de taxas, Taurus pede carência de 2 anos
No entanto, operacionalizar dos EUA tem um limite, segundo o CEO da Taurus. “Deixamos claro que não é possível nem viável transferir toda a operação para a Georgia. Temos que encontrar um meio acordo”, diz.
Segundo ele, o aumento da fábrica americana já estava nos planos da Taurus, sendo efetivado aos poucos.
“As taxas provocaram uma aceleração muito grande do processo”, afirma. Ele diz que a empresa pede também uma carência de 2 anos no caso da manutenção das taxas. “Nesse período, consigo de uma forma equilibrada, de forma a treinar o pessoal americano, fazer essa transferência de forma organizada”, afirma.
“Esse modelo é perfeito para nós e para os EUA. Se eu desequilibrar esse modelo, seria prejudicial inclusive para a unidade da Georgia”, diz.
No Brasil, argumento é pela soberania nacional
Em âmbito nacional, a Taurus mantém contato com o governo federal, tendo se reunido com representantes da equipe de Geraldo Alckmin, vice-presidente, além de José Múcio, ministro da Defesa, e também representantes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento).
“Estamos tirando esse ranço de armas. Não estamos falando de acesso do mercado civil, a questão é maior, é sobre soberania nacional”, diz Salesio. Ele afirma que sua explanação sobre a Taurus tem sido bem recebida pelo governo federal.